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Como o Capitalismo do Olhar Está Transformando a Arte em Fast Food Cultural e Destruindo a Contemplação Profunda

Greta Lopes
Fundadora e CEO da Casa Offline, mestre em Artes Cênicas pela UNESP

 

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20.ago.2024 às 12h00
Como o Capitalismo do Olhar Está Transformando a Arte em Fast Food Cultural e Destruindo a Contemplação Profunda

O avanço do capitalismo do olhar tem transformado significativamente a forma como experimentamos e interagimos com a arte, trazendo implicações profundas tanto para a produção artística quanto para a sua recepção. Este conceito, que descreve a exploração econômica da atenção humana, não só redesenha a dinâmica da economia digital, mas também altera o espaço onde a arte é criada e apreciada.
 
O capitalismo do olhar opera com base na monetização da atenção dos indivíduos. Plataformas digitais, redes sociais e outros meios de comunicação modernas capturam e vendem o tempo e a atenção dos usuários a anunciantes e empresas. Esse modelo econômico incentiva a criação de conteúdos que maximizem a visualização e a interação rápida, priorizando cliques e impressões sobre o valor profundo e contemplativo. A arte, tradicionalmente uma forma de expressão que demanda tempo e reflexão, está agora inserida em um ambiente onde a atenção é o principal produto a ser explorado.
 
A contemplação, um aspecto essencial para a fruição completa da arte, está em risco diante dessa lógica. Contemplar uma obra de arte exige um espaço de quietude e atenção plena, onde o espectador pode se conectar com a profundidade, a complexidade e as nuances da criação artística. No entanto, o capitalismo do olhar promove um ambiente saturado de estímulos rápidos e superficiais, onde a atenção é fragmentada e dispersa. Em um mundo onde o tempo de atenção é constantemente disputado por uma infinidade de conteúdos efêmeros, a capacidade de se dedicar a uma apreciação mais profunda da arte torna-se um desafio.
 
Este impacto se reflete na produção artística, que muitas vezes é moldada por essas novas demandas econômicas. Artistas podem sentir a pressão para criar obras que sejam imediatas e atraentes para um público que busca gratificação instantânea. A busca por engajamento e viralidade pode levar a uma simplificação das obras, reduzindo a complexidade e a profundidade em favor de apelos mais superficiais. Em vez de explorar temas profundos e desafiadores, os artistas podem optar por estratégias que garantam maior visibilidade e retorno financeiro imediato, comprometendo assim o potencial crítico e estético da arte.
 
A recepção da arte também é afetada por essa dinâmica. Em vez de experimentar uma obra com um olhar contemplativo e atento, o público pode se ver pressionado a consumir arte de forma rápida e desatenta. A experiência estética, que exige uma conexão mais íntima e reflexiva, pode ser substituída por uma visualização passageira e superficial. As plataformas digitais, ao priorizarem o conteúdo que gera mais cliques e compartilhamentos, promovem uma forma de consumo que muitas vezes não favorece a apreciação mais profunda, impactando negativamente a maneira como a arte é recebida e valorizada.
 
Além disso, a saturação de informações e a constante competição por atenção geram um ambiente em que a arte pode ser facilmente diluída ou negligenciada. Em um fluxo incessante de atualizações e novidades, a arte que não se alinha às tendências do momento ou que não tem um apelo imediato pode passar despercebida, afetando sua capacidade de alcançar e impactar o público.
 
O capitalismo do olhar, ao transformar a atenção em um recurso econômico, cria um cenário em que a arte se vê enredada em uma rede de estímulos rápidos e expectativas comerciais. A contemplação, um aspecto fundamental para a verdadeira apreciação da arte, enfrenta desafios significativos nesse novo contexto. A produção artística e sua recepção são moldadas por essas pressões, resultando em uma relação complexa e muitas vezes prejudicial entre a criação e a fruição da arte. Em última análise, a busca por uma atenção mais profunda e genuína torna-se uma forma de resistência contra a superficialidade imposta por um capitalismo que explora o olhar humano como uma mercadoria.
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