Na contramão da hiperconexão, Casa Offline propõe em Pinheiros uma revolução silenciosa contra a dependência digital
- Greta Lopes
- 3 de jun.
- 2 min de leitura
por Redação
Deixar o celular de lado e viver algumas horas sem notificações está se tornando mais do que um desejo — virou necessidade. Se na Europa movimentos como o Offline Club atraem multidões que topam passar um sábado inteiro longe dos smartphones, em São Paulo um espaço começa a ganhar força com a mesma proposta: retomar a presença como um valor social. É a Casa Offline, em Pinheiros, criada pelas irmãs Greta Lopes e Carolina Tomaz, que vem se tornando ponto de encontro para quem deseja respirar fora das telas.

A proposta é radical na sua simplicidade. Quem participa dos encontros, chamados de Rolês Offline, deve guardar o celular em uma bolsa com trava magnética, inspirada em tecnologias usadas em escolas nos Estados Unidos e shows internacionais. Durante todo o evento, o aparelho permanece inacessível. E o efeito é imediato: as conversas se alongam, os olhares se cruzam e o tempo parece desacelerar.
Não é só sensação. O uso excessivo de telas já é apontado pela Organização Mundial da Saúde como um dos fatores ligados ao aumento de ansiedade, depressão e distúrbios do sono entre jovens e adultos. Uma pesquisa recente da British Standards Institution revelou que 46% dos jovens de 16 a 21 anos prefeririam viver em um mundo sem internet. A maioria deles relatou se sentir pior após passar muito tempo online. É esse mal-estar difuso — mas cada vez mais presente — que a Casa Offline tenta enfrentar com encontros reais, gratuitos ou acessíveis, onde o bairro vira palco de reconexão humana.
Os Rolês já viraram hábito entre os frequentadores. Há manhãs de meditação silenciosa, tardes de leitura, encontros queer pet friendly, cafés criativos e até jogos de tabuleiro como o Dixit, que ativam a imaginação fora do universo digital. “É um outro tempo. Quando eu tô aqui, esqueço completamente do celular”, diz Maila, estudante. Carlos, músico, afirma que “quanto mais distante eu fico das telas, melhor pra minha saúde mental”. Já Wilson, educador físico, conta que os encontros mudaram sua relação com o Instagram. “Desinstalei o app depois de um Rolê”.

Para junho e julho, a Casa prepara novidades. Além da programação regular, será lançada a peça As Guerrilheiras do Offline, uma comédia distópica sobre um futuro onde criar um perfil na rede social Baleia é obrigatório. Também estão previstas rodas de conversa sobre ética digital e uma palestra com a psicóloga Márcia Iketsu sobre os impactos da dependência nas redes. Tudo isso sem celular, claro.
A Casa Offline funciona como um clube: a programação é enviada por e-mail ou WhatsApp, e quem assina os planos mensais tem acesso a eventos exclusivos e gratuitos. Não há Instagram, não há Facebook, não há algoritmo. Só gente de verdade tentando viver dias melhores — longe das telas e mais perto umas das outras.













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