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Seguidor ou Escravo?
A Verdade Chocante Sobre Como as Big Techs Estão Explorando Você
Greta Lopes
Fundadora e CEO da Casa Offline, mestre em Artes Cênicas pela UNESP
20.ago.2024 às 11h00
Seguidor ou Escravo?
A Verdade Chocante Sobre Como as Big Techs Estão Explorando Você
No século XXI, vivemos imersos em um universo digital que redefine nossas interações, percepções e até mesmo a economia global. Se, em um passado não tão distante, a economia escravocrata dominava vastas regiões do mundo, hoje, um novo tipo de exploração emerge nas mãos das grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs. A relação entre seguidores e plataformas digitais revela uma dinâmica que, embora diferente em forma, ecoa a lógica da exploração que caracterizava a escravidão.
O modelo econômico escravocrata era sustentado por uma exploração direta e brutal. Milhões de seres humanos foram forçados a trabalhar sob condições desumanas, sem qualquer remuneração ou liberdade, gerando lucros imensos para seus proprietários. Este sistema, além de desumanizador, era economicamente vantajoso para os que detinham o poder, consolidando uma estrutura social profundamente desigual. O controle absoluto que os senhores de escravos exerciam sobre seus cativos era a base de um império econômico que perdurou por séculos.
Hoje, a exploração assume novas formas, menos explícitas, mas não menos insidiosas. As big techs, como Google, Facebook, e Instagram, construíram impérios bilionários explorando o que muitos consideram o novo "petróleo" da era digital: os dados pessoais. Essas plataformas oferecem serviços aparentemente gratuitos, mas o verdadeiro preço é pago com a nossa privacidade. Dados sobre nossos comportamentos, preferências e interações são coletados, armazenados e vendidos, alimentando um ciclo de consumo e produção de conteúdo que beneficia essas corporações de maneira exponencial.
O usuário, ou seguidor, nesse contexto, pode ser comparado ao escravo de outrora. Embora não haja correntes físicas, há uma manipulação constante através de algoritmos sofisticados que moldam comportamentos, influenciam decisões e criam uma dependência das plataformas. O controle é sutil, mas profundo, e a liberdade de escolha é, na verdade, limitada pelas opções que os algoritmos decidem apresentar. Assim como os escravos eram forçados a trabalhar para seus senhores, os seguidores trabalham involuntariamente para as big techs, gerando dados e conteúdo que alimentam o ciclo econômico digital.
Essa exploração contemporânea é amplamente respaldada por dados científicos. Estima-se que o valor global do mercado de dados pessoais chegue a trilhões de dólares, com uma demanda crescente por informações cada vez mais detalhadas sobre os usuários. Um estudo de 2020 da University of Southern California revelou que os algoritmos das redes sociais são projetados para maximizar o tempo de uso e a interação dos usuários, criando uma espécie de "prisão digital" da qual é difícil escapar. A pesquisa destacou que a exposição prolongada às plataformas pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, efeitos colaterais que, ironicamente, geram ainda mais dados para as big techs explorarem.
A dimensão neoescravocrata da contemporaneidade se torna ainda mais evidente quando consideramos o poder desproporcional que essas empresas exercem. Elas não apenas controlam os dados de bilhões de pessoas, mas também moldam a opinião pública, influenciam eleições e definem o que é ou não visível no mundo digital. Essa concentração de poder assemelha-se àquela dos antigos proprietários de escravos, que tinham o controle absoluto sobre as vidas e os destinos de seus cativos.
No entanto, assim como o mercado de escravos foi eventualmente abolido, há esperança de que o modelo econômico neoescravocrata das big techs também chegue ao fim. A conscientização pública sobre as práticas de coleta de dados e a demanda por maior transparência e ética nas operações das empresas de tecnologia são passos fundamentais nessa direção. Iniciativas como o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia mostram que é possível implementar leis que protejam os direitos dos usuários e limitem o poder das corporações.
Além disso, o desenvolvimento de tecnologias alternativas e descentralizadas pode oferecer uma rota de fuga desse ciclo de exploração. Redes sociais baseadas em blockchain, por exemplo, permitem maior controle dos usuários sobre seus próprios dados, promovendo uma economia digital mais justa e equitativa. A pressão do consumidor também não deve ser subestimada; movimentos por responsabilidade corporativa e o boicote a plataformas que abusam da privacidade podem forçar as big techs a repensarem suas práticas.
Em resumo, embora a escravidão e a exploração digital operem em contextos e formas diferentes, ambas refletem dinâmicas de poder que beneficiam poucos à custa de muitos. A luta contra essa nova forma de exploração exige não apenas legislação e tecnologia, mas também uma mudança de consciência coletiva, onde o valor da liberdade e da privacidade seja reafirmado em um mundo cada vez mais conectado. O fim da economia neoescravocrata é possível, mas requer ação decidida e consciente de todos os setores da sociedade.
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